Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do "apesar de". Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do "a vida é assim mesmo". Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono.
Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenezi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.



PC Siqueira .

Eu queria ser uma borboleta. Livre, leve, solta, independente. As borboletas passam pelo processo mais belo e verdadeiro da natureza: a metamorfose. De lagarta feia e desajeitada, ela vira um inseto lindo e delicado. Eu queria ser uma borboleta pra mostrar pra todo mundo que toda mudança pode gerar bons resultados. Eu queria ter essa certeza. Mas será que a lagarta sabe que sua vida infeliz vai se metamorfosear numa linda existência? Acho que a lagarta não sabe que vai virar borboleta. Assim como o patinho feio, que não sabia que era um cisne até se transformar em um e causar inveja entre seus ‘irmãos’ patos… Mudanças me trazem medo, e se eu fosse uma lagarta, certamente teria medo de me fechar num casulo sem saber ao certo o que iria acontecer. Imaginem, quando você está finalmente acertando sua vida como lagarta, conformada com uma existência medíocre, de repente vc tem que se enfiar num casulo apertado e ficar lá até que a natureza por si só te tire dessa existência sofrível e te transforme no ser mais belo de sua fauna.
Como toda boa borboleta, deve-se passar pelo processo completo. E no fundo isso faz sentido, senão todas já nasceriam borboletas e perderiam a beleza da transformação. A beleza da surpresa, da novidade. Nenhuma existência pode ser completa se não houver nela processos sérios e completos de transformação. As lagartas-borboletas que o digam! Tem horas na vida em que tudo parece de cabeça pra baixo, as coisas começam a sair de um jeito inesperado, indesejado. Todas as certezas passam a ser incertas, confusas, sem razão de ser. Assusta. Tem horas que a solidão do casulo se torna intransponível. Seria a solidão necessária para a metamorfose? Será que se os casulos fosses colméias como as das abelhas, onde todas nascem juntas, no mesmo ambiente, quase ao mesmo tempo, prejudicaria a beleza da transformação? Será que o resultado seria outro ao invés da bela borboleta?